Doce, doce inspiração
Ela é pequenininha de tamanho
Mas com suas ideia, suas atitude é capaz de atravessar o mundão
Mulher preta, guerreira
Amiga confidente
Sintonia ancestral
Minha e dessa sapatão combatente
Falamo pouco
Mas a gente se entende
Seu jeito, alguns julgam como arrogante
O mesmo eu chamo de timidez apaixonante
Esse jeito de recitar
Foi ela que me “ensinou”
Desculpa a falta de originalidade na expressão
Mas você de verdade me inspirou
Poesia anti-patriarcado, anti-estética, anti-branquitude
Eu já sabia
Mas você ainda mais me estimulou
Na arte a gente tem dessas
De ter inspiração
E essa doce combativa mina
Foi a que inspirou meu coração
Obrigada, preta
Por todas as ideia trocada
Por toda a força que me dá
Nas palavra declamada
Obrigada, preta
Por ter me mostrado esse caminho combatente
A cada ideia trocada
Fico mais consciente
Cê diz que aprende comigo
Eu que aprendo com você
Arte, resistência, sentimento, ancestralidade
Cada conversa eu nunca vou esquecer
Sou tua fã admiradora
E fico feliz em te ter como amiga
E poetisa inspiradora
Já faz um tempo que eu tava encucada sem saber entender
Mas finalmente essa tal de poesia
Me permitiu explicar o que sinto por você
Tomara que não acabe
Tomara que nunca quebre
Que mãe Nanã e mãe Oxum
Nossa amizade preserve
Obrigada preta, ídola, inspiração, combativa, amiga
Te considero – e te quero – até umas hora,
Guerreira doce, Formiga.
Arquivo da categoria: Poesia
O preto agora quer fazer Direito
Ele resolveu que quer fazer Direito
Ele resolveu que quer fazer em universidade pública
Especificamente na USP
Ele resolveu dizer que ali é nosso lugar por direito
O preto resolveu que vai fazer Direito
Preto, você nem comeu direito
Nem dormiu direito
Nem estudou direito… tava mó cansado à noite na escola
Porque de dia teve que trabalhar direito
Aos 24 anos
Terminando o ensino médio na modalidade EJA
Muitos apontam o dedo em sua cara e diz: tá aí ainda porque não fez direito!
É fácil julgar sem saber direito
Mas o preto quer direitos!
Mas não basta só direitos
O preto quer nossos direitos sendo cumpridos
Respeitados, legitimados, assumidos!
Tá disposto a lutar
Passar por toda aquela etapa de pré-vestibular
E da 1° fase
Será que vai passar?
E depois tem 2° fase
Como vai ficar?
Por quantos anos vai tentar?
Vão dizer que depende do seu esforço, da sua capacidade
Que cotas raciais é vitimismo
Mas o preto sabe que a gente tá em posição de desigualdade!
Sabe que essa gente opressora legitima o racismo
A gente carrega heranças fortes daquela época que não foi embora direito
A gente ainda sente a dor do couro do chicote, da desumanização
Do discriminação, da miséria
De lá pra cá não teve ascensão
Mas muita gente não enxerga isso direito
Mas o preto não baixou a guarda
E quer conquistar nossos direitos
Cadê nos bancos dessa universidade alunos negros?
Quantos pretos tem na USP?
E no Direito da USP?
Quem tem direito à USP?
Quem deveria ter direito à USP?
Mas pra isso ele vai brigar
Já falou que por mais que demore, é lá que ele um dia ele vai estar
E ele vai fazer barulho direito!
Ele vai incomodar direito!
Ele quer mostrar o poder que tem o preto!
Vai mostrar que preto tem que ter direito
Vai gritar pra todo mundo que não pode mais ficar desse jeito
A gente quer subir, se empoderar, ter respeito!
Cuidado, doutor!
Pode ficar com medo
Se o vida loka é perigoso assim agora
Imagina quando graduar
Ninguém segura o preto
Você nem imagina onde ele é capaz de chegar
Cuidado, doutor!
Pode começar a ficar com medo.
O preto vai fazer Direito
A gente vai conquistar o lugar que é nosso por direito
Pode começar a ficar com medo
Vamo empretecer esses bancos
A gente vai quebrar as estruturas do seu direito branco
Cuidado, doutor
Tá com medo?
Pode continuar tremendo
O preto agora, vai fazer Direito